29.4.10

Tempo livre, o que fazer?

Outro dia me perguntaram como se diverte a nova classe média. Talvez seja difícil para quem se considera elite entender realmente este conceito de nova classe média. As pessoas independentemente de classe social têm desejos muito semelhantes: reunir-se com amigos, proporcionar diversão para a sua família, ter mobilidade, ou seja sentir-se livre, conhecer novos lugares, ter conforto e por vai. Claro que o meio onde vivemos cria formas diferentes de satisfazer estas necessidades. Para não ser muito filosófica é só comparar um país europeu, a Alemanha, por exemplo, com o Brasil. Para um alemão a imensidão verde do interior do Brasil tem um grande valor, um significado de liberdade. Para um brasileiro talvez o sistema público de transporte de uma cidade como Dusseldorf proporcione a mesma sensação.

Mas vamos voltar, então, ao nosso tema. O mesmo acontece com as pessoas que recentemente conseguiram ter uma sobra de renda suficiente para pensar em lazer, e o que fazer com este tempo livre. Direito, aliás, que sempre deveria ter sido de todos. Mas deixemos estas considerações sociológicas para lá. Estamos aqui falando de mercado, não é? Para quem observa de perto esta realidade algumas mudanças de comportamento ficam claras:

  • as pessoas começaram a sair para comer fora de casa, hábito que quase não existia, ou estava restrito a ocasiões muito especiais. Talvez quem mais tenha ganhado com isto sejam as pizzarias, pelo menos por aqui no estado de São Paulo. Muitas abriram nos bairros de ¨periferia¨ e os serviços de entrega ou delivery também ganharam novos clientes. O mesmo vale para as redes de fast food como Habib´s, Mac Donald`s, Subway... Os famosos lanchinhos, onde você pode comer um famoso X ou cheese tudo, agora com Coca-Cola litro,  assim como os bares de espetinhos também proliferaram. E até os restaurantes para um almoço de domingo, self-service ou uma churrascaria rodizio tiveram um grande crescimento. Se eu tivesse que fazer uma aposta para a nova tendência diria que há muito espaço para as cantinas, com uma boa lasanha. Vamos ver...


  • as pessoas também passaram reunir-se mais com os amigos. Um churrasco no final de semana com muita cerveja é indispensável. Pode ser na churrasqueira nova, no espaço coletivo de um pequeno condomínio ou mesmo em uma chácara alugada pela turma. Daí vem o novo conceito usado na propaganda da Skol, adeus as mulheres gostosas, viva a reunião com os amigos. É, para quem ainda não entendeu, para isto serve a pesquisa de mercado. E por que a Skol mudou, porque aquela mulher maravilhosa da propaganda era um sonho impossivel do imaginário do homem que enchia a cara no boteco da esquina na sexta-feira pra esquecer dos problemas, E a cerveja do churrasco é do mundo real que se criou com o crescimento econômico. Bom, mas isto é assunto pra outro blog... Com esta mudança de hábito ganham também os refrigerantes em geral e a Coca em especial, as rotisseries com seus pratos prontos, os açougues só para citar alguns.


  • E como é bom ter mobilidade! Um carro em bom estado na garagem, uma moto ou mesmo uma bicicleta de alumínio novinha. A nova classe média como os números da industria confirmam comprou ou trocou o seu carro. Novo ou semi-novo não importa. O que importa é que ele está em bom estado, com os documentos em dia e pronto pra ser aproveitado. Pequenos passeios a lugares próximos no fim-de-semana, uma visita a um familiar que mora em outra cidade ou estado, e que você não via faz tempo, em um feriado de Pascoa, Natal ou Dia das Mães. Aquela esperada viagem pra praia, muitas vezes a primeira. Ou simplesmente dar um rolé pela cidade no sábado a noite. Pra quem é mais jovem a moto que ele comprou com o salário do emprego com carteira assinada é a melhor companheira. Mercado aliás que cresceu 25% no Brasil em 2008, e provavelmente vai continuar crescendo significativamente em 2010. Quem sabe agora o pessoal não vai trocar a Honda biz ou a Titan, por uma de maior potência? E a bike também, pra galera de menos de 18 é o máximo. Isto sem falar no crescimento da venda de passagens aéreas e rodoviárias que acompanham a mesma tendência.

  • Para conhecer novos lugares, fazer turismo mesmo, o pessoal prefere as viagens organizadas, as famosas excursões. Pelo que observo este é um mercado que está começando a se expandir agora, quando falamos da nova classe média. Turismo ainda é um luxo, e outras prioridades vieram primeiro: reforma da casa, educação, uma tv moderna... Aqui no interior de São Paulo, a praia é o destino número 1, e Guarujá o local preferido. Um hotel de lazer na beira do rio ou parques termais, também são opção. Existe muita oportunidade neste mercado atualmente, e quem trabalha no setor tem que ficar atento para aproveita-las. Para viagens mais longas, o Nordeste é o sonho a ser alcançado. E uma visita ao Paraguai, uma boa oportunidade de lazer e bons negócios.

  • E a cultura como fica? E um primeiro momento quem mais ganhou espaço foram os dvds. Um dos primeiros bens a ser adquiridos, fez com que as locadoras proliferassem na periferia. Mas o ciclo já se esgotou, da mesma forma que aconteceu nas classes mais altas, e muitas fecharam ou  abriram lan houses para aproveitar o espaço e os clientes. O aparelho de dvd continua em casa, mas agora passando videos de shows de Vitor e Léo, Claudia Leite, Calipso... e muitos são piratas. Quem chegou recentemente foi a Tv a cabo, ou tv paga como se diz por aí. Algumas ligações oficiais e outras vindas de decodificadores piratas que você encontra facilmente quem venda. A porta de entrada foram os canais infantis, para quem  tem filhos (canais de desenho e Discovery Kids, que é bastante respeitada) e os canais de esporte, por causa dos campeonatos de futebol. Para quem não tem em casa, uma ótima opção é assistir na tv de plasma que instalaram no boteco ou na padaria. Aliás, esta audiência em locais públicos não é medida, mas especialmente no caso da tv paga ela é bastante significativa. Os shows e festas de peão também ganharam público, porque se tornaram acessíveis. O cinema? Também, mas faltam salas na periferia. E o exibidores ainda não entenderam. Claro que os shoppings absorvem boa parte do público, mas acho que não é suficiente, e muitas vezes são distantes e frequentados por públicos incompatíveis.
Quer saber mais?   Espere o próximo capítulo, que este já ficou grande demais

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