26.3.09

Como se mede a audiência da TV - cap 1

Cada vez mais ouvimos falar de pesquisa. Pesquisa de intenção de votos, confiança do consumidor, popularidade do presidente e por aí vamos. Talvez a mais famosa de todas seja a pesquisa de audiência, o famoso ibope
O desempenho de um programa em relação a audiência é decisivo para o seu sucesso comercial e permanência no ar. A audiência determina quantos e quais anunciantes o programa vai ter. As agências de propaganda fazem o que se chama planejamento de mídia, quando escolhem como os seus anunciantes vão distribuir sua verba publicitária entre as diferentes emissoras e meios, e para isso existe a pesquisa de audiência.

Por outro lado, os canais de Tv  usam a pesquisa para definir sua programação. No Brasil, um dos pioneiros no uso do ibope como ferramenta para definir o conteúdo do programa foi o Gugu. Com seu programa transmitido ao vivo e informações de audiência em tempo real, prolongava um assunto quando o público estava gostando e ao menor sinal de desinteresse podia tirar um quadro ou artista do ar. O mesmo comportamento adotou o Faustão, o que gerou a famosa guerra de audiência nas tardes de domingo. 
Nos EUA, a audiência de um programa é um dado ainda mais importante para sua permanência no ar. Uma queda de audiência pode ser fatal para um programa após poucas exibições. 


Tudo isto faz com que a pesquisa de audiência tenha desenvolvido técnicas muito sofisticadas de medição, já que são muitos os interesses envolvidos. Por outro, lado as novas tecnologias obrigam cada vez mais as empresas de pesquisa a atualizar os seus sistemas, para que em um mundo de convergência digital os resultados possam refletir a realidade.



No Brasil o sistema adotado chama-se people meter, um aparelho que conectado aos vários televisores do domicílio transmite a informação sobre o canal que a tv está sintonizada e quem está assistindo. Em princípio eram medidos apenas os canais de tv aberta, mas com a entrada do cabo no Brasil a tv paga também é monitorada, assim como os DVDs e outros aparelhos conectados ao televisor.



People meter conectado ao televisor

Na Grande São Paulo e Grande Rio de Janeiro, por exemplo, as informações de audiência são transmitidas das casas para a central de processamento do Ibope em tempo real, o que significa que a emissora de tv pode acessar através de um monitor os dados de audiência de um programa, a cada minuto, durante sua exibição. Há alguns anos esta informação era enviada através da linha telefônica, e o Brasil foi um dos pioneiros no desenvolvimento deste sistema. Com o avanço da tecnologia via radio frequência (telefonia celular) a transmissão de dados foi facilitada.


E como são escolhidos os domicilios que vão participar da pesquisa, o que se convenciona chamar painel de domicilios?
Este é tema que sempre gera muita controversia, porque as pessoas costumam ter a sensacao que para a pesquisa ser correta deveriam sempre ter entre seus conhecidos pessoas que participassem do painel. Nao é verdade. A selecao dos domicilios participantes é feita atraves de uma metodologia de amostragem aleatoria, procedimento padrao em qualquer estudo estatistico. 


No Brasil, o Ibope, produz um estudo denominado LSE (Levantamento Socio Economico) que complementa os dados do Censo em relação a variáveis significativas em relação ao habito de consumo de tv, como: numero de aparelhos no domicilio, acesso a tv paga, entre outras. Os domicilios participantes deste painel são selecionados por um sorteio aleatorio a partir dos levantamentos oficiais do censo do IBGE. Após esta primeira selecao e a partir dos dados socioeconomicos do domicilio serao definidos também seguindo uma metodologia estatística, as familias que são convidadas a participar do estudo. O tempo medio de participação é de 4 anos, e nao existe nenhuma remuneração pela colaboração.

Quando você ouve ou lê sobre a audiência de um programa de tv no Brasil, muitas vezes estão falando apenas da audiência da Grande São Paulo. Os dados sobre outras cidades do país são reunidos e processados no dia seguinte a exibição do programa. Este sistema de medição eletrônica é utilizado no Brasil nas principais capitais. Atualmente (2011) o Ibope faz medicao regular de audiencia utilizando peoplemeters em Porto Alegre, Curitiba, Florianopolis, Grande São Paulo, Campinas, Grande Rio, Belo Horizonte, Vitoria, Salvador, Recife, Fortaleza, Goiania, Distrito Federal, Fortaleza.

E o interior não é medido? Sim, também existe medição de audiência de Tv para algumas cidades do interior do Brasil, mas nao de maneira regular, nao fazendo parte do Painel Nacional de Domicilios do Ibope. Recentemente a medição eletrônica regular foi introduzida em Campinas, a primeira cidade do interior a contar com o sistema. Nas demais localidades a metodologia utilizada é diferente. Não são utilizados os people meters mas um sistema conhecido como cadernos, onde cada morador anota os programas assistidos durante uma semana.
Mas isto fica para um próximo. Até lá.

Quer saber mais?

21.3.09

Consumo da nova classe C



Será que ela ainda quer OMO?

Muito se fala neste momento da classe C, como ela se comporta, quais os seus desejos, onde faz compras e por aí vamos. A classe C não é óbvia. Ela aprendeu bastante com as crises, com a vida.

A Unilever se engana quando imagina que ela continua sonhando em comprar OMO porque a marca é símbolo de status. Status é o celular que ela tem na bolsa, e o dinheiro no bolso pra comer uma pizza com a família. OMO só vale a pena se for um bom produto. E com preço justo (R$5,70 - 1kg). Ela sabe lavar roupa. Todo sábado de manhã costuma lavar a roupa da família. Ela é dona-de-casa, mas não é só isso. Trabalha, e é vivida. E questiona: será mesmo que OMO rende mais? Tira as manchas? Ou será que aquele Tixan Ypê não é também muito cheiroso e eficiente. E custa bem menos (Rs 3,38 - 1kg). Tem um preço bom no mercado ali pertinho que ela costuma ir. Claro que se o dinheiro estiver sobrando, a força da marca ainda tem seu valor. E todo mundo gosta de poder comprar o que é o melhor. Mas quando a vizinha passar por lá pra bater um papo, não vai achar ela chic porque usa OMO, talvez nem repare. As prioridades são outras. Ainda bem. Vão sentar pra assistir um DVD, ou quem sabe um canal a cabo. E bom mesmo é ter crédito no celular. Mas isto é tema pra outro dia.
Omo tem ainda uma enorme participação de mercado: 43,5% (participação de mercado em 2007) e é a marca lider do Top of Mind em todas as categorias, mais do que Coca-Cola, há quase dez anos. A Unilever co uma mudança de estratégia de marketing reverteu a queda de participação e modernizou a imagem de marca. Mas a custa de muito investimento em propaganda concentrado nesta marca em detrimento das demais administradas pela companhia. Mudou seu presidente e notadamente os canais de distribuição para o pequeno varejo. Faz efeito. E faz muita pesquisa para quantificar a mesma tendência que nós buscamos aqui. Vivendo e observando.
Em 2002, os detergentes em pó mais baratos, feitos para a base da pirâmide social, representavam 26,9% das vendas totais do segmento. Hoje, detêm 42,3% de participação.

20.3.09

Pesquisando tendências

Em um mundo cada vez mais multi-midia, com consumidores distribuídos pelas diferentes classes sociais e regiões geográficas, além de um cenário de crise que questiona os velhos valores, a pesquisa de mídia começa a ser uma ciência interessante no Brasil. Já não é suficiente conhecer o comportamento do consumidor classe A/B dos grandes centros urbanos como sempre foi. Hoje, a onda é descobrir como pensa a nova classe C, que a nova realidade econômica transformou em público-alvo. Anos de planejamento de mídia voltados para as classes altas perderam repentinamente o valor. E pior, veio a crise. O poder de compra da classe A/B está diminuindo, manter o padrão de vida, especialmente nas grandes cidades, está cada vez mais dificíl. Os grandes anunciantes descobriram que há vida fora destes targets. Há consumo no interior do país, nas periferias, nas classes mais baixas. E consumo inteligente, de qualidade. Mas quem são eles, como se comportam, quais os seus desejos? Que programas assistem, como se divertem, quais os seus valores? Como comunicar, conectar com eles? Estas já não são perguntas tão fáceis de responder. Trilhar este caminho é um dos objetivos deste blog. Mas não escrevo e não vivo no escritório na Av. Paulista. Já estive lá. Hoje vivo e escrevo da periferia, do interior. Porque só daqui, vivendo aqui, conversando, experimentando, fazendo amigos, compartilhando dificuldades e conquistas se pode realmente entender o que é fazer parte do mundo real para a enorme maioria dos brasileiros. E para conquistá-los não basta colocar em seu planejamento de marketing é preciso muito mais esforço. É melhor começar perdendo muitos dos seus preconceitos.